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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mariel Mariscot

Mariel Mariscot

Nascido em Niterói, em junho de 1940, filho de Ariel Mariscot de Matos e de Maria Araújo Mariscot de Matos, Mariel foi com a família morar em Salvador, na Bahia. Quando completou três anos de idade, seu pai morreu vítima de enfermidade incurável. Durante cinco anos D. Maria lutou sozinha para criar os dois filhos, Roberto e Mariel. Cinco anos depois, ela se casou novamente e regressou ao Rio de Janeiro, indo morar em Bangu, na zona oeste, com o novo marido, o terceiro sargento do Exército, Wilson de Azevedo Brito, e os dois filhos: Roberto, com seis anos e Mariel, com oito. Era o ano de 1948.

Mariel, seus pais e seu irmão moravam no subúrbio carioca, numa casa humilde, de pau-a-pique. Com o soldo de sargento, o padrasto de Mariel precisava contar com a renda de D. Maria que costurava para fora. Os meninos ajudavam fazendo bainha nas saias. O tempo passava, Wilson foi promovido a primeiro-sargento, e pôde proporcionar uma vida melhor à família. Mudou-se para uma casa de alvenaria com todas as dependências. Nessa época, Mariel já era rapazinho. Estudava à noite, trabalhava e, pela manhã, treinava natação e water-polo à tarde, no Esporte Clube Bangu. Foi campeão carioca de natação e saltos ornamentais.

Aos dezesete anos se alistou na Divisão Aero-terrestre como pára-quedista. Sua carreira militar foi curta, mas bastante para despontar como um soldado arrojado e de coragem invejável, que substituía, voluntariamente, os companheiros escalados para saltos. Com isso ele mantinha o número necessário de saltos para receber soldo maior do que um soldado comum. A vidinha de Bangu já não satisfazia mais os anseios daquele jovem militar apontado como um dos mais corajosos do corpo de pára-quedistas. Mariel via nas revistas que o padrasto levava para casa, um mundo diferente, cheio de prédios, boates, praias e mulheres bonitas. Esse mundo ficava apenas a alguns quilômetros de Bangu. Seu nome: Copacabana.

Através dos jornais, o inquieto Mariel tomou conhecimento da abertura de um concurso para o cargo de guarda-vidas. Era o caminho aberto para concretizar um de seus sonhos. O suburbano de classe média baixa sonhava com um mundo de cores, dinheiro e aventuras. Ele sonhava com o glamour da zona sul do Rio de Janeiro. E mais, custasse o que custasse, Mariel queria ser rico. Prestou os exames e conseguiu ser um dos primeiros colocados com nota muito acima da média. Como membro do Corpo Marítimo de Salvamento, ele pôde alugar um pequeno apartamento e habitar no mundo que sempre desejou, o mesmo mundo que o levaria ao auge da fama e o arrastaria às celas de uma prisão. Finalmente, Mariel Mariscot de Matos estava morando em Copacabana.

Em 1963, fez concurso para a Polícia Civil e passou em todas as provas. Como policial foi designado para trabalhar num subposto de Bangu. Depois de tanto esforço para morar em Copacabana, acabou voltando ao bairro onde moravam seus pais. Nos dias de folga, se apresentava para fazer um “extra” na delegacia de Copacabana. Foi nas rondas na delegacia da zona sul que Mariel aprendeu, com um simples olhar, distinguir o punguista do assaltante, o ladrão de praia do traficante de drogas, o estelionatário do vagabundo de rua. Foi na delegacia de Copacabana que ele aprendeu a técnica de interrogar e de perseguir bandidos nos morros, a ter vivência nas casas noturnas e de atirar e correr atrás de bandidos.

Foi na empolgação de seus vinte e um anos de idade, que Mariel Mariscot matou pela primeira vez, quando deu um flagrante de assalto e os bandidos resistiram à voz de prisão. Daí em diante, ele passou a ser conhecido como o Ringo de Copacabana. Naquela ocasião, Mariel rendeu, com uma pistola calibre 45 em cada uma das mãos, um delegado de polícia que queria prendê-lo sob a acusação de homicídio.

Desde o dia em que matou pela primeira vez, passando por uma trajetória invejável de prisão de bandidos famosos e o assassinato de um motorista de táxi e o momento em que o promotor Silveira Lobo lhe deu voz de prisão com a preventiva já decretada, sob a acusação de pertencer ao Esquadrão da Morte, muitos lances emocionantes e perigosos marcaram a vida de Mariel Mariscot de Matos. No carro da polícia que o conduzia ao Ponto Zero, onde fica o Batalhão da Polícia Militar, junto com César, seu companheiro de prisão, Mariel falou da necessidade de fugir para provar sua inocência. César não só concordou, como prometeu segurar a onda, enquanto o parceiro tentava reunir as provas. A fuga era uma decisão irrevogável. Na cela, César e Mariel acertaram detalhes. Só não marcaram data. Primeiro tinham que estudar bem aquela prisão, para que tudo saísse da melhor maneira possível. Durante alguns meses eles permaneceram com os outros presos, partilhando jogos, fazendo juntos as refeições e dormindo quando soava o toque de recolher. A idéia de fuga martelava a cabeça de Mariel.

Num trabalho que exigiu muita paciência, ele passou a cronometrar tudo o que acontecia na prisão. Havia a sala de jogos que fechava às 18 horas. Só às 21 horas eram trancadas as portas dos xadrezes. Esse detalhe fez com que Mariel concluísse que o melhor horário para a fuga era entre 17h55 e 18h05. Era o tempo em que os carcereiros estavam ocupados em encerrar o movimento da sala de jogos que fechava cinco minutos depois. Aqueles dez minutos eram importantes, porque, dentro desse tempo, era feita a substituição da guarda, no portão principal da cadeia. No dia programado para a fuga estava chovendo e os guardas procuravam proteção embaixo de uma grande marquise. Na área por onde deveria escapar, o sentinela andava de um lado para o outro.

Mariel Mariscot anotou: eram cinquenta passadas de ida e o mesmo na de volta. Exatamente na volta, o guarda ficava de costas, tempo suficiente para que ele ganhasse a passarela do terceiro andar. A sala de jogos estava quase vazia. Mariel subiu na janela. Deu um salto e agarrou ao parapeito, passou da janela para um andaime colocado para o banho de sol dos presos. Em determinado momento, teve que se abaixar para não ser visto pelo carcereiro que dava ordens aos retardatários da sala de jogos. Agarrado a parede, Mariel se deslocou do lance da passarela para o outro lance, mais abaixo. Desta forma conseguiu chegar a parte externa do prédio. Corpo reto, respiração ofegante, ele avançou e atingiu a terceira janela. Todo o cuidado era pouco. No andar de baixo, dois soldados da Polícia Militar conversavam animadamente. Bastava uma olhada para cima e Mariel estaria descoberto. A chuva ajudava, os soldados saíram daquele ponto e ele continuou em sua escalada. Na quarta e última passarela do pavilhão, Mariel deu um giro no corpo, entrou novamente no prédio e alcançou o saguão da entrada principal. Diante dele estava apenas a escada que o levaria para a liberdade.

Elza de Castro, atriz e sua mulher na época, estava a sua espera com o motor do carro ligado, na Avenida Brasil. Mariel entrou, se acomodou no banco do carona e partiram rumo ao Sul do país. O final da viagem seria o Paraguai. No caminho, depois de contar todos os detalhes da fuga, Mariel divertia Elza lembrando os lances do homem que matou em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, quando surpreendeu três bandidos tentando assaltar um comerciante.

“Aquele nunca mais vai assaltar ninguém” – contava ele com entusiasmo – Eu não queria matar, mas o cara reagiu e não tive outra alternativa senão manda-lo para o inferno. Foi uma jogada de sorte. Nós íamos passando, eu e o César. Ali, perto da rua Álvaro Ramos diminuímos a marcha do carro. A gente já tinha recebido reclamações que ali estava havendo assaltos com muita freqüência. Entramos na rua General Góis Monteiro e vimos um homem sendo assaltado. Fui incisivo. Parei o carro de repente. César desceu de um lado e eu do outro. Ficamos distantes para não chamar a atenção.

Observamos que a vítima mantinha as mãos espalmadas na altura do peito. Um homem estava na frente dele e o outro atrás, enquanto o terceiro revistava seus bolsos. Não havia dúvida de que se tratava de um assalto. Me aproximei sorrateiramente por entre os carros e gritei: Mãos na cabeça que é a polícia. A resposta foi na hora. Um dos caras se virou, apontou a arma e começou a atirar. Por alguns segundos fiquei em posição difícil, me protegendo por entre os carros estacionados, sem poder atirar para não atingir o cara que estava sendo assaltado. Os bandidos estavam se escudando na vítima. Eles atiraram novamente, rolei por entre os carros e ganhei melhor posição. Um dos bandidos ficou bem descoberto. Fiz pontaria e atirei na cabeça dele. O outro estava preocupado com César que se aproximava atirando do outro lado. Saltei por cima do capô de um carro e atirei na testa do segundo assaltante. Ele ainda estava caindo quando atirei novamente acertando-o no peito. O assaltante rodopiou e caiu. César chegou correndo e, pensando que eu também estivesse morto já ia atirar novamente na cabeça do assaltante. Eu gritei: Calma compadre, eu estou bem. A vítima dos bandidos – o comerciante Hélio Tamassini – estava tremendo, encostado na parede de um prédio. César examinava os homens feridos, percebeu que estavam graves e decidimos leva-los para o pronto de socorro. Um deles morreu antes de chegar ao hospital Miguel Couto. O outro escapou.

Mariel foi morto em 1981, no centro do Rio de Janeiro, quando estacionava o carro para uma reunião com bicheiros.




3 comentários:

Anônimo disse...

SE NOS DIAS DE HOJE HOVESSEM POLICIAIS COMO ELE E UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA SÉRIA, O RIO DE JANEIRO, COM CERTEZA, SERIA UM LUGAR MELHOR PARA SE VIVER.

Anônimo disse...

Que nada, nos dias de hoje, seria banda podre...

Anônimo disse...

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